Fazer Terapia com Terapeuta ao Invés de Psicólogo: Funciona Mesmo?

 



A busca por saúde emocional e bem-estar psicológico tem levado cada vez mais pessoas a procurarem apoio terapêutico. No entanto, com a popularização das terapias integrativas, holísticas e alternativas, é comum surgir uma dúvida legítima: fazer terapia com terapeuta ao invés de psicólogo, funciona mesmo? Essa pergunta envolve diversas camadas — legais, éticas, técnicas e emocionais — e merece uma análise cuidadosa para que o indivíduo possa fazer uma escolha consciente e segura.

Neste artigo, vamos explorar as diferenças entre psicólogos e terapeutas não psicólogos, os tipos de terapias oferecidas por cada profissional, os benefícios e limitações de ambos, além de reflexões sobre como escolher o melhor caminho para o seu processo de autoconhecimento, cura emocional e desenvolvimento pessoal.


1. Psicólogo x Terapeuta: Qual a Diferença?

Psicólogo Clínico

O psicólogo é um profissional formado em Psicologia, curso superior regulamentado, com registro obrigatório no Conselho Regional de Psicologia (CRP) para exercer legalmente sua profissão. Sua formação inclui disciplinas baseadas em ciência, como neurociência, estatística, psicopatologia, desenvolvimento humano, além de práticas supervisionadas em estágios.

A psicoterapia conduzida por psicólogos é baseada em teorias psicológicas reconhecidas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Psicanálise, Gestalt-Terapia, Análise do Comportamento, Terapia Sistêmica, entre outras. É uma prática respaldada por evidências científicas e por regulamentações éticas rigorosas.

Terapeuta (não psicólogo)

O termo "terapeuta" é mais amplo e não está restrito a uma formação específica ou regulamentada. Um terapeuta pode ter formação em áreas diversas — de pedagogia, coaching, medicina natural, reiki, constelação familiar, aromaterapia, hipnoterapia, acupuntura, florais de Bach, cromoterapia — e atuar dentro do campo das terapias integrativas e complementares, muitas das quais são reconhecidas pela OMS e pelo SUS como recursos auxiliares de cuidado.

É importante ressaltar que terapeutas que não são psicólogos não estão autorizados a diagnosticar transtornos mentais ou tratar quadros clínicos psicológicos graves, como depressão severa, transtorno de personalidade, transtornos de ansiedade com sintomas debilitantes, entre outros.


2. Funciona Mesmo? O Que Diz a Experiência Terapêutica

Depende do seu objetivo terapêutico

A eficácia de um processo terapêutico depende mais da relação entre terapeuta e cliente, da consistência da abordagem e da entrega do paciente, do que do título do profissional em si. No entanto, é fundamental considerar o tipo de sofrimento envolvido.

  • Para crises existenciais, autoconhecimento, espiritualidade, equilíbrio energético e emocional leve, terapias alternativas como constelação familiar, meditação guiada, hipnoterapia, reiki e florais podem oferecer acolhimento e insights valiosos. Muitas pessoas relatam transformações profundas com essas abordagens.

  • Para sofrimento psíquico intenso, traumas, transtornos mentais, luto complicado, crises de pânico ou depressão, a psicoterapia conduzida por um psicólogo ou psiquiatra é a mais indicada. Isso porque exige diagnóstico, plano terapêutico estruturado e, em alguns casos, apoio medicamentoso.

Abordagens Complementares, Não Concorrentes

É possível — e muitas vezes recomendado — conciliar os dois caminhos. A terapia com psicólogo pode andar de mãos dadas com práticas integrativas, desde que cada profissional respeite os limites de sua atuação. Por exemplo: alguém que faz psicoterapia pode complementar seu processo com sessões de meditação, acupuntura ou aromaterapia para potencializar os efeitos de regulação emocional.


3. O Papel da Aliança Terapêutica

Independentemente da formação, a relação de confiança entre terapeuta e paciente é um dos principais fatores de sucesso no processo terapêutico. Sentir-se ouvido, acolhido, respeitado em sua subjetividade e em seu ritmo é essencial. Isso pode acontecer com um psicólogo, mas também com um terapeuta holístico bem preparado, com ética e sensibilidade.

Por isso, antes de iniciar qualquer processo terapêutico, vale refletir:

  • Esse profissional me transmite segurança?

  • Ele respeita meus limites e minha história?

  • Há clareza no que ele pode ou não fazer?

  • Ele me escuta sem julgamento?

  • Sinto-me melhor após as sessões?

Essas perguntas ajudam a perceber se a terapia — seja com psicólogo ou terapeuta — está funcionando.


4. Os Riscos de uma Escolha Mal Informada

Embora muitos terapeutas alternativos sejam sérios e comprometidos, há riscos quando:

  • O terapeuta promete curas milagrosas ou imediatas.

  • Não há clareza de formação ou experiência prática.

  • Ele atua como se fosse um psicólogo, fazendo diagnósticos, usando termos clínicos sem ter base.

  • Há invasões de crenças pessoais e religiosas do terapeuta sobre o cliente.

  • Falta sigilo, ética ou respeito com o sofrimento do outro.

Tais atitudes podem não apenas prejudicar o tratamento, como agravar o quadro emocional da pessoa.


5. Terapia é Caminho, Não Receita Pronta

Muitas vezes, buscamos respostas prontas para a dor que sentimos, e é natural querer saber o que “funciona melhor”. Mas é importante lembrar que cada pessoa é única. Para alguns, a escuta de um terapeuta transpessoal será o que desperta mudanças significativas. Para outros, será a estrutura da psicoterapia cognitiva que trará alívio e reestruturação. Há ainda aqueles que só encontram sentido quando associam abordagens.

Não existe uma fórmula universal, e sim o convite a um processo, que pode — e deve — ser ajustado ao longo do tempo.


6. Quando Procurar um Psicólogo ao Invés de Terapeuta?

É fortemente recomendado procurar um psicólogo (ou psiquiatra) nos seguintes casos:

  • Diagnóstico ou suspeita de transtornos mentais (depressão, bipolaridade, TOC, fobias, etc.);

  • Histórico de traumas graves ou abuso;

  • Pensamentos suicidas;

  • Transtornos alimentares;

  • Transtornos de personalidade;

  • Casos que envolvem medicamentos ou laudos psicológicos;

  • Quando há indicação médica ou jurídica de acompanhamento.


7. Quando um Terapeuta Alternativo Pode Ajudar?

A terapia com um terapeuta integrativo pode ser muito útil quando:

  • O objetivo é ampliar o autoconhecimento;

  • A pessoa busca reconexão espiritual ou energética;

  • Há interesse por abordagens complementares como meditação, cromoterapia, bioenergética, entre outras;

  • A pessoa deseja um processo leve e acolhedor, sem foco em diagnósticos;

  • Já está em acompanhamento psicológico e deseja terapias auxiliares.


Conclusão

Fazer terapia com terapeuta ao invés de psicólogo pode funcionar sim, desde que o sofrimento apresentado seja compatível com a atuação desse profissional e que ele trabalhe com ética, responsabilidade e autoconhecimento. A chave está em saber o que se busca, entender os limites de cada abordagem e, principalmente, sentir-se bem e em evolução com o processo.

A saúde mental é um direito de todos, e há muitos caminhos possíveis para cultivá-la. O mais importante é iniciar a jornada de cuidado com seriedade e discernimento, reconhecendo que o primeiro passo — pedir ajuda — já é, por si só, um ato de cura.

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