Quando a Perda de Memória Pode Ser Preocupante: Um Olhar Terapêutico
Esquecer onde deixou as chaves, o nome de uma pessoa que acabou de conhecer ou uma tarefa do dia a dia é algo comum a todos nós. Afinal, o cérebro está constantemente processando uma grande quantidade de informações, e é natural que algumas delas “escapem”.
No entanto, quando esses esquecimentos se tornam frequentes, começam a afetar a rotina ou causam sofrimento, é hora de acender um sinal de alerta.
Quando a perda de memória deixa de ser um esquecimento pontual e passa a interferir no bem-estar e na funcionalidade da vida, ela se torna um tema terapêutico importante.
Neste artigo, vamos explorar:
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Os tipos de memória e como funcionam
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Diferença entre esquecimentos comuns e sinais de alerta
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Fatores psicológicos e emocionais que afetam a memória
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Quando procurar ajuda
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Abordagens terapêuticas para cuidar da saúde mental e cognitiva
Como a memória funciona?
A memória não é uma "caixa de armazenamento" única no cérebro, mas um sistema complexo com diferentes tipos e etapas.
Principais tipos de memória:
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Memória de curto prazo:
Armazena informações temporárias (por exemplo, um número de telefone que acabamos de ouvir). -
Memória de trabalho:
Relacionada ao raciocínio e manipulação de dados em tempo real (por exemplo, fazer um cálculo mental). -
Memória de longo prazo:
Armazena informações por dias, anos ou toda a vida, incluindo memórias autobiográficas e conhecimentos adquiridos. -
Memória episódica:
Ligada a eventos vividos, como o que você comeu ontem ou sua última viagem. -
Memória semântica:
Relacionado ao conhecimento do mundo, como fatos, nomes, datas e conceitos.
Esquecimentos normais x perda de memória preocupante
Esquecimentos comuns (não preocupantes):
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Esquecer onde colocou objetos pontualmente
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Esquecer nomes e lembrar depois
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Entrar em um cômodo e esquecer o motivo
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Dificuldade de lembrar datas específicas sob estresse
Esses lapsos são geralmente causados por distração, cansaço, sobrecarga de estímulos ou estresse emocional.
Sinais de alerta:
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Dificuldade frequente em lembrar informações recentes
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Repetir perguntas várias vezes no mesmo dia
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Esquecer nomes de pessoas próximas ou familiares
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Desorientação no tempo ou espaço (não lembrar onde está ou que dia é)
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Esquecer como realizar tarefas rotineiras
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Dificuldade em seguir conversas ou raciocínios simples
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Mudanças abruptas de humor associadas à confusão
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Negação ou irritação diante da sugestão de que algo está errado
Quando esses sinais se tornam recorrentes, é importante investigar com profissionais da saúde.
Causas possíveis da perda de memória
1. Fatores emocionais e psicológicos
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Ansiedade: estados ansiosos constantes comprometem a concentração e dificultam a consolidação da memória.
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Depressão: a lentificação cognitiva típica da depressão pode afetar gravemente a atenção e a memória de curto prazo.
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Estresse crônico: o excesso de cortisol afeta negativamente o hipocampo, região do cérebro essencial para a memória.
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Transtornos de trauma: pessoas que viveram experiências traumáticas podem apresentar bloqueios de memória ou lapsos.
Atenção terapêutica: Muitas vezes, a perda de memória não tem origem neurológica, mas emocional. Por isso, o acolhimento psicoterapêutico é essencial.
2. Uso de substâncias
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Álcool em excesso
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Benzodiazepínicos e outros medicamentos
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Drogas ilícitas
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Uso prolongado de medicamentos sedativos
3. Distúrbios neurológicos e doenças cognitivas
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Alzheimer e outras demências
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Lesões cerebrais
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AVC
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Déficits cognitivos leves (que podem evoluir)
4. Fatores fisiológicos e hormonais
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Distúrbios da tireoide
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Deficiências nutricionais (como B12 e ácido fólico)
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Distúrbios do sono (como apneia)
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Menopausa (em mulheres, pode causar névoa mental)
O impacto emocional da perda de memória
Perceber que a memória está falhando frequentemente gera:
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Medo de estar “enlouquecendo”
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Vergonha de admitir dificuldades
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Isolamento social por insegurança
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Ansiedade antecipatória ("e se eu esquecer de novo?")
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Crises de identidade ("quem sou eu se não consigo confiar na minha mente?")
Nesses momentos, o apoio psicológico é fundamental para acolher o sofrimento, desfazer crenças catastróficas e propor estratégias práticas.
O papel da terapia na perda de memória
1. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
Ajuda a identificar os pensamentos disfuncionais relacionados ao medo de esquecer e propõe novas formas de lidar com os lapsos de memória.
Exemplo:
Pensamento disfuncional: “Estou com Alzheimer.”
Reestruturação cognitiva: “Estou passando por muito estresse, o que pode afetar minha atenção. Vou buscar apoio.”
2. Terapia de Estimulação Cognitiva
Foca em exercícios mentais e rotinas para fortalecer áreas da memória, linguagem e raciocínio.
3. Mindfulness e técnicas de atenção plena
Reduzem a dispersão mental e melhoram a concentração, fundamentais para memorizar informações.
4. Psicoterapia humanista ou psicodinâmica
Apropriadas quando a perda de memória está ligada a traumas emocionais ou bloqueios inconscientes.
Quando procurar ajuda profissional?
Consulte um psicólogo, psiquiatra ou neurologista se:
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Os esquecimentos interferem no seu trabalho, estudos ou rotina doméstica.
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Você está evitando situações sociais por insegurança.
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Outras pessoas notaram mudanças na sua memória.
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Você está angustiado ou deprimido por não conseguir confiar na sua mente.
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Existe histórico familiar de Alzheimer ou outras demências.
Quanto mais cedo for investigado, melhores as chances de tratamento e reversão de causas emocionais ou clínicas.
Estratégias terapêuticas para o dia a dia
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Faça listas e anotações — o cérebro não precisa decorar tudo.
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Crie rotinas — elas ajudam a fixar hábitos e memórias.
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Durma bem — o sono é essencial para consolidar lembranças.
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Pratique exercícios físicos — melhora a oxigenação cerebral.
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Evite multitarefas excessivas — foco é melhor que pressa.
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Busque hobbies que desafiem o cérebro: leitura, jogos, música, escrita, aprendizado de novas línguas.
Considerações finais
A perda de memória não é sempre um sinal de doença grave, mas nunca deve ser negligenciada quando começa a afetar a qualidade de vida.
Mente e corpo estão profundamente conectados. Muitas vezes, ao cuidar da saúde emocional, a memória se reequilibra.
Permita-se buscar ajuda.
A memória pode falhar…
Mas o cuidado com você mesmo não precisa falhar junto.
Sugestões de leitura e aprofundamento
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O Cérebro Autista — Temple Grandin
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A Cabeça Bem-Feita — Edgar Morin
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Alzheimer e outras Demências — José Luiz de Sá Cavalcanti
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Mindfulness: Atenção Plena — Mark Williams e Danny Penman
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